Música Folclórica
“ A importância do folclore, nomeadamente do conto popular, para as visões do mundo, próprias a uma cultura determinante, já não carece de longa demonstração”.
Para compreender a vida de hoje, e imperioso conhecer a origem os fundamentos e evolução da nossa cultura.
Com a descoberta da Madeira e Porto Santo, aportaram nestas ilhas, povoadores de origens e nacionalidades diversas, com costumes e saberes distintos. Entretanto, chegavam os Mouros cativos das encostas de Marrocos que, em convivência com os Descobridores, vão fundindo costumes, religião, crenças e superstições. Começa, assim, a história desta terra que através da literatura oral, do folclore, chegou aos nossos dias.
Na introdução ao livro, “Ilha da Madeira I Folclore Madeirense”, Américo Cortez Pinto salienta o papel da Natureza, para formação da psique humana. Mas lembra que a alma portuguesa é uma referência em qualquer parte do mundo, onde chega a língua e os costumes de Portugal. E conclui:
“Porém, no isolamento geográfico da ilha, mais circunscritos à pureza das fontes genéticas e duma etnia menos penetrada de influências estrangeiras, os vilões da Madeira, sobretudo, mantêm-se mais integralmente ligados às estripes, à linguagem e ao folclore herdado das gerações dos primeiros povoadores de há quinhentos anos”
Eram as vivências do quotidiano que motivavam o povo a exteriorizar as suas paixões e emoções, em gestos e palavras mais ou menos elaboradas, que alicerçavam a nossa cultura oral, o nosso folclore, tradições que merecem ser recolhidas, divulgadas e preservadas. “No nosso tempo, os problemas do folclore tornam-se sempre mais actuais. Nenhuma ciência humana, nem a etnografia, nem a História, nem a linguística, nem a História da Literatura, pode fazer prescindir dos materiais e das pesquisas folclóricas.”
O Folclore, como ciência, fundamenta-se e circunscreve-se à investigação de folcloristas, conhecedores da psicologia do povo, os quais com paciência se dedicam ao estuda das tradições materiais e espirituais, sobretudo no meio rural, pouco alfabetizado e mais espontâneo no modo de exprimir os sentimentos, (cantando com vontade de chorar), ou sufocando as angústias e lágrimas em lendas, lengalengas, provérbios, crendices, contos e histórias, tudo quanto possa aliviar a alma e faça esquecer as agruras da vida.
Tanto como cantar, tocar ou bailar é mister digno e importante dos grupos de folclore, a recolha, investigação, preservação e divulgação da literatura oral e tradicional da sua terra, conscientes de que:
“Na sua simplicidade, no seu desprezo pelos respeitos humanos, nas suas predilecções e nos seus idealismos, o Povo conserva as virtudes admiráveis da Raça, assim como sabe manter essa alma nobre, cheia de poesia, procurando com naturalidade, como que por instinto, fixar e realçar quanto a vida tem de belo!”.
Assim persistem, na Madeira e Porto santo, velhos costumes medievais, introduzidos pelos Descobridores, bem visíveis e sensíveis nos hábitos alimentares, no amanho das terras, assim como nas cantorias e nos poemas ou versos de improviso, nos “despiques e brinquinhos”, em encontros familiares ou em romarias.
O nosso povo afeito às lides da terra e do mar, tornou-se laborioso e aguerrido, lutando arduamente pelo” ganha-pão” e pela posse das suas terras. Conseguidos estes objectivos, após a faina do dia, deixa-se possuir por uma paz interior, donde brotam expressões de religiosidade à mistura com crenças e superstições, sobressaindo as lendas insulares, com um fundo original que, atravessando séculos, chegaram aos nossos dias e constituem um atributo de certas camadas da população. Numa cultura de massas e com a chegada dos media aos lugares mais recônditos da nossa Região torna-se necessário, nas recolhas, separar o “trigo do joio”, pelo reconhecimento das nossas raízes, da nossa literatura oral, do nosso folclore. Entre o folclore e a literatura oral e tradicional há uma estreita ligação, são produtos da mesma criação poética e podem partilhar algumas tarefas que digam respeito à pesquisa literária e folclórica. No entanto, Vladimir Proop afirma que “ (…) o folclore possui uma poética de todo mesmo sua, distinta da das obras literárias. O estudo desta poética revelará as extraordinárias belezas poéticas contidas no folclore”.
Para a historiadora, museóloga e folclorista brasileira, Niza B. Megale, “o folclore, em si, é a cultura mais antiga da humanidade”, e contínua: “o folclore, apesar de não percebermos, acompanha a nossa existência e tem grande influência na nossa maneira de pensar, agir e reagir”.
Esta folclorista lembra que “toda a sociedade participa da criação do folclore, considerado por muitos a história não escrita de um povo”.
Partilhando este conceito, temos recordado, várias vezes, que o folclore não é estático mas dinâmico, e não morrerá com os homens de determinada geração, recria-se em cada época, de acordo com as necessidades e mentalidades de cada tempo.
Falar no folclore da Madeira e do Porto Santo é prestar uma homenagem ao nosso povo que tinha e tem uma cantiga para cada acontecimento da vida. Era e é, esta capacidade de viver alegre, fazer-se ouvir e evitar quebras “no brinco”, uma veia poética, que vai passando de pais para filhos, tal como outros saberes.
As festas são memórias da protecção divina, do cumprimento de promessas e compromissos de no ano seguinte lá voltar. Durante as romarias, além das quadras em louvor do Patrono, fazem-se declarações de amor, anunciam-se baptizados, recordam-se os falecidos e agradecem-se favores, tudo em verso, ao som dos instrumentos tradicionais.
A literatura oral e tradicional está viva e presente no coração e na mente de pessoas idosas, que gostam de alguém que oiça as suas histórias da meninice e juventude. Apelamos aos folcloristas e grupos folclóricos que acolham estas narrações, pelo muito que poderão representar para a história da nossa Região Autónoma.
Teresinha Santos, Revista folclore 24 H a Bailar - RAM -DRA
Legenda:
TRAJES REGIONAIS DA MADEIRA (DE CIMA PARA BAIXO E DA ESQUERDA PARA A DIREITA)
CALHETA – FUNCHAL
PONTA DO SOL – PONTA DO SOL (SOLTEIRA)
FAJÃ DA OVELHA – MACHICO
FUNCHAL – FUNCHAL (1843)
CAMPANÁRIO – FUNCHAL
SERIGUILHA (HOMEM) – ÁGUA DE PENA
FATO DE LINHO BRANCO (HOMEM) – FATO DOMINGUEIRO (HOMEM)
SANTA CRUZ – SANTANA
PONTA DO PARGO – S.VICENTE
RIBEIRA BRAVA – S.JORGE
PONTA DO PARGO – PORTO MONIZ
FUNCHAL (1856) – SERRA D`ÁGUA
POSTAIS OFERECIDOS PELO INSTITUTO DO BORDADO E TAPEÇARIAS DA MADEIRA.
FOTOGRAFIA: JOÃO PESTANA
MODELOS: CARLA DANTAS E NUNO REBOLO
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